estranho mundo
que me chora por dentro do peito…
Enquanto acalentamos branduras
o ignóbil sonho imundo
orgulha-se do feito
de premir sobre as vítimas o gatilho
e despedaçar os corpos num segundo…
E não se destrói o empecilho
Que nos reduz a esperança
De vencer pela causa que nos dói
E não se desfaz o espartilho
que a desgraça traz
E não nos indica da verdade o trilho
onde ela jaz…
Algozes mascarados
dispersos como ácaros
ufanos da macabra orfandade
Foram-se os inocentes calados
desfeitos em pedaços
Dispersos seus corpos pelo chão
nem tiveram tempo para abrir os braços
É o silêncio que nos cala consternados
no mistério de nunca conhecerem
as razões do estranho profundo
Porque morram?
Já não valem nada?
E o grito de gritar por dentro da surdez se cala…
É este o vale de lágrimas deslizante
que ora nos deixa lânguidos
ora arrepia e faz puxar da espada
cortar os ventos que sopram de agonia
e jorrar o sangue nesta infinda estrada
…sangue que jorra dum e doutro povo
Quem faz parar a matança?
A quem interessa
o sangue inocente
fazer a festança
e encher a pança?

Fernando Almeida
Luanda, 26 Fev. 05
NOTA: Como sempre, aceito (agradeço)