Kibutz  (juntos)

קיבוץ

 

 

 

 

 

 

(plural: kibutzim: קיבוצים)

origem na palavra Kvutzá (grupo)

pioneiros  Biluim dos kibutsim na 1ª Aliá, anos 1880

 

Estávamos suficientemente felizes trabalhando na terra, mas sabíamos mais certamente que as maneiras dos velhos assentamentos não eram para nós. Essa não era a maneira que esperávamos colonizar o país — essa velha maneira com judeus em cima e árabes trabalhando para eles; enfim, pensávamos que não deveria haver empregadores e empregados de forma alguma. Deve haver um jeito melhor. (Joseph Baratz,o fundador do 1º Aliá,sobre o kibutz Zikhron Yaakov)

Fundamentais no nascimento do País Israel, na concretização da Nação Israelita (Eretz Israel) , foram uma interpretação prática de socialismo trabalhista e sionista a coletividades comunitárias.Embora na atualidade já aceitem empregados pagos exteriores ao kibutz,foram eles que formaram grande porcentagem de líderes e responsáveis pela ideosincrasia nacional. Mas não poderemos esquecer o papel estratégico e militar após a Independência (1948) na guerra árabe-israelita, travando o avanço inimigo até socorro do Exército(Tzahál).

O Aliá surge devido aos pogrooms na Rússia,em Kishinev, em 1903, a derrota russa contra o Japão e a  revolução vermelha em 1905. Constituiram agrupamentos agrícolas em que se misturavam para todos os tipos de trabalhos com os árabes

Foi nos anos 1880 que o movimento migratório judaico para a Palestina (2º Aliá) teve relevo, constituido por cerca de 15.000 famílias do sul da Rússia, fugidos de todo o tipo de discriminação e perseguições (pogrooms), mas numa intenção diferente: passarem do estudo castrense e religioso e do pequeno negócio (dinheiro rápido para, se perseguidos, usarem em ocasião de fuga ou de suborno) para a prática agrícola de sobrevivência, sendo denominados "Biluim" .

"os pálidos e curvados comerciantes judeus de alguns meses atrás" tornaram-se "lavradores bronzeados, de mãos calejadas e másculos" (1883, The London Jewish Chronicle).

Os "Biluim" criaram e incentivaram então o movimento migratório numa aplicação da religião ao trabalho a fim de concretizar "Eretz Israel" em Israel numa complexidade nacionalista,espiritual-religioso,social,político, através da ocupação do território pela implantação de focos residenciais agrícolas (mas diferenciados dos do 1º Aliá por serem eles a terem os trabalhos principais e os árabes em subalternidade).

 Rishon LeZion e Zichron Yaakov, foram exemplos de realização, mesmo que amparadas por remessas financeiras do exterior.

"A questão não era se o assentamento coletivo era preferencial ao assentamento individual; era uma das formas de assentamento coletivo ou nenhum assentamento."  - Arthur Ruppin

Num território sem lei sem ser a individual e saqueadora dos nómades beduinos,

O planejamento de desenvolvimento de assentamentos sionistas pioneiros foram desde o início pelo menos parcialmente determinados por necessidades político-estratégicas. A escolha da localização do assentamento, por exemplo, era influenciada não apenas por considerações de viabilidade econômica mas também e sobretudo pelas necessidades de defesa local, estratégia de assentamento global, e pelo papel que tais blocos de assentamento poderiam desempenhar em algum futuro, talvez decisivo em qualquer confronto. Dessa forma, terra era comprada, ou muitas vezes melhorada, em partes remotas do país. (Rayman)

na presença de cólera,tifo e malária (sem qualquer saneamento), solo inóspito e infértil (Galileia com seus pântanos; Neguev desértico, montes de rocha desnuda), clima adverso, sem experiência agrícola, a necessidade de defesa e independência na sobrevivência, foi o ponto de arranque para o ajuntamento dos Biluins. Havia o problema de aquisição de de terra, mas a comunidade judaica acudiu (as célebres "caixas azuis" onde era introduzido os óbulos)

Degania (grão) surgiu, em 1909, junto a Umm Juni (vila árabe), a sul do Mar da Galileia, depois da compra a uma família persa de Beirute/ Líbano. Fundada por Joseph Baratz com 9 homens e 2 mulheres (em 1914 já contava 50 pessoas), foi o 1º kibutz revolucionário como exploração agrícola de trabalho coletivo e para ambos os sexos sem distinção (surge a palavra para marido ishi -meu homem - em vez da tradicional palavra  ba'ali - meu dono),  revolucionário no campo social, num esforço hercúlio:

"o corpo está esgotado, as pernas falham, a cabeça dói, o sol queima e enfraquece."

Uma mini-diáspora se iniciou, quer elementos saíndo para as cidades, quer formando novos kibutz, tal como na região do Mar da Galiléia e no vale Jezreel.

O após da I Guerra Mundial trouxe o retraimento do Império Otomano, a ocupação pelo governo britânico da Palestina em que esta se traduziu numa melhor oportunidade para expansão dos yishuv e kibutzim , pois os otomanos dificultaram a Diáspora da Europa. Judeus,cristãos e mussulmanos tiveram uma liberdade maior embora ainda restritiva.

A declaração de Balfour alterou a demografia da Palestina causada pela Aliá, havendo grande violência árabe em 1921/Jerusalém , em 1929/Hebron. Após 1930 surge o Grande Levante , de anti-semitismo árabe  permanente até à atualidade.

Mas na Europa,os acontecimentos se precipitaram desfavorávelmente para os hebraicos: Europa Central, a do Leste, a guerra russo-polonesa e a guerra russos brancos-russos soviéticos, os pogroms catrastóficos de 1918-1929.

"Os primeiros grandes pogroms aconteceram em Zhitomir e Berdichev, velhos centros judaicos"

de onde eles se espalharam para Proskurov (onde mil e quinhentos judeus foram mortos) e arredores. Ao todo, por volta de quinze mil judeus foram mortos nesses ataques e muitos mais feridos. Muito das propriedades dos judeus foi destruído. O número de mortes foi muito maior do que nos progroms pré-guerra. A vida humana havia se tornado sem valor após 1914, e enquanto que a morte de algumas dúzias de vítimas em Kishinev causou uma onda de protestos no mundo civilizado, o assassinato de milhares 1919–1920 não causou qualquer movimentação.  -  Walter LaQueur, A History of Zionismo

 
Começa a 3ª Aliá, nos anos 1920,vinda da Europa de Leste e da Central, principalmente devido quer à morte de Alexandre II quer daqueles pogroms.
 A 4ª Aliá,nos finais dos anos 29 foi resultado do impacto que causou na comunidade judaica o impedimento de emigração pela Russia bolcheviche  e pelos Ucranianos.  Esta imigração para Eretz Israel foi fundamental para o incrementos dos kibutsim . Perseguições na Polónia, na Roménia (Guarda de Ferro e Liga de Defesa Cristã Nacional se destacaram nas perseguições), a Grande Depressão , o anti-semitismo acirrado europeu na época, vieram a fomentar os grupos juvenis judaicos, de diversas opções politicas e até religiosas: Dror, Brit Haolim, Kadima, Habonim, Wekleute - socialistas; Hashomer-Hatzair - maxista; Betar - direitista; Bachad - religioso;etc. em que vieram a exercer sua influência nos kibutzim
 

"Ó, que lindo que era quando todos participávamos das discussões, [eram] noites de busca de um pelo outro - é assim que chamo aquelas noites santificadas. Durante os momentos de silêncio, me parecia que de cada coração uma faísca saltaria, e as faíscas se uniriam em uma grande chama penetrando os céus…. Ao centro de nosso acampamento uma fogueira queima, e sob o peso da Hora a terra geme um gemido rítmico, acompanhado por músicas excitantes." (Gavron)

Ein Harod, constituida por 215 membros,foi fundada nos anos 20, demonstrando a apetência pelo trabalho agrícola de auto-sustento.

Foi na década de 20 que surgiram as Mossad Hinuchi (Sociedades das Crianças), onde havia professores e enfermeiros para cuidar, libertando as mães para a vida comunal. Melford E. Spiro (1958) e Bruno Bettelheim (1969), filósofos, concluiram que estas sociedades trouxeram reflexos de falta para permanentes compromissos emocionais futuros, mas na opinião do jornalista Bettelheim teriam um grande sucesso na academia, negócios, música e exército.

Surge em 1927 Kibutz Artzi , por seculares mesmo de ateus,a favor de um estado binacional e contra a divisão,federação de kibutsim,fundada por HaShomer Hatzair, que veio a constituir em 1936 a Liga Socialista da Palestina, ou Hashomer Hatzair, como partido politico, que após independência formou o Mapam, mas popularmente conhecida como Hashomer Hatzair.

Em 1928 se constituiu o grupo Chever Hakvutzot , agrupamento do Degania (Degania que hoje possui uma fábrica para produzir instrumentos de corte de diamantes ) com outros kibutzim , de características de até 200 habitantes , não devendo ser aceites elementos isolados da vida comunal,além que politicamente separado dos movimentos juvenis europeus.

Foram eles que impediram o avanço dos carros de combate árabes na guerra após a independência com bombas caseiras de gasolina (cockteis molotov)

Kibutz Hameuhad (unido) foi a principal corrente kibutsim, em que Givat Brenner excedeu os 15000 habitantes.

Após a declaração árabe do Grande Levante,em 1930,os kibutsim se começaram a armar, quer comprando armas quer as fabricando(Maagan Michael fabricou munição para a sub-metralhadora Stern inglesa em que mais tarde se transformou na Indústria Militar Israelita  "TAS"). Hoje Maagan Michael deixou o fabrico bélico para elaborar instrumentos médicos e manuseio de plástico

1930 é uma época importantíssima: alem de surgir  Ygal Allon como líder politico aglutinador do espírito de auto-defesa colectiva, surge a formação de kibutsim para ocupação de território limitador de futuras fronteiras (em 1946,só numa noite foram edificados do nada, surgindo repentinamente na madrugada, 12 kibutsim no desértico norte Negueviano, área de fundamental importância estratégica)

Em 1946, em Ein Tzurim, surge o grupo Kibutz Dati, ultra-ortodoxo,que sucessivamente ocupou Tzurim perto de Safad, na Cisjordânia em Hebron e no Neguev

Até 1970,  nos kibutsim a "colectividade" era a pedra base: só a tesouraria da Comunidade tinha a posse total das dádivas, de todos os objetos,animais ou ferramentas.

Devido à vivência colectiva, a taxa de natalidade sempre foi muito baixa, sendo "resolvida" pela aceitação de crianças vindas do exterior

"Quando vimos nossas primeiras crianças no quintal, se batendo, ou agarrando os brinquedos apenas para si mesmas, éramos tomados de ansiedade. Isso significava que mesmo uma educação em uma vida comunal não poderia evitar essas tendências egoístas? A utopia da nossa concepção social inicial era destruída aos poucos." (Segev)

O kibuts evoluiu ao longo dos anos,muitas vezes abandonando o espírito inicial de coletividade: as necessidades básicas de viver se foram alterando ( pagar individualmente a luz,a alimentação,a TV e o DVD,a água,etc) e a necessidade de ter excedentes agrícolas e manufaturados para obter para o Estado divisas na exportação. Assim o kibutz passou sucessivamente da dádiva exterior e/ou Estadual para a auto-sustentação. Hoje, por exemplo,Kibutz Hatzerim tem a Netafim, fábrica para equipamentos de irrigação por gotejamento, de nível internacional .

A industrialização pós anos 60,trouxe a necessidade da mão de obra braçal por elementos exteriores (mesmo  árabes e até tailandêses) ao kibuts e se refletiu no abandono pela maioria da agricultura .

Outra atividade surgiu : o turismo (Kibutz Kiryat Anavim tem um hotel de luxo;  Kibutz Lotan e Kfar Rupin são conhecidos ambientalistamente  pela observação "in-loco" de pássaros indígenas).

kibutz Ketura

kibutz Kfar-mazaryk

kibutz Kib

kibutz Neve-Ur

Outra atividade dos anos 80 surgiu no recurso a operações na Bolsa de Valores por alguns kibutsim, os tornando alguns financeiramente viáveis.

 Outros, tal como o Tamuz, nada mais é do que um kibuts-dormitório, pois sendo urbano, todos trabalham no exterior.

A evolução trouxe salários diferenciados consoante a ocupação de cada um

Ano População Número de Kibutzim
1910 10 1
1920 805 12
1930 3.900 29
1940 26.554 82
1950 66.708 214
1960 77.950 229
1970 85.110 229
1980 111.200 255
1990 125.100 270
2001 115.500 267

Nos anos 80,os kibutsim mostraram um índice de envelhecimento e diminuição,embora a sul surgiram na região de Eilat  em Arava, em que já desde 1976 existisse o Samar , típico pelo seu coletivismo e confiança mútua

Em 2003,recrudesceu o movimento demográfico kibutsiano, ultrapassando hoje os 120.000 elementos distribuídos por cerca de 270 kibuts.

O kibuts não deixou o seu papel estratégico na ocupação e defesa do território.pelo que o Estado os apoia e colabora na reestruturação, alem da manutenção do seu valor histórico

         

(Nota: me lembro nos anos 50/60,em Lisboa/Portugal, haver o pedido de sementes e caroços de fruta - principalmente de pêssego -  para enviar para Israel...nós miúdos (crianças), sem qualquer conhecimento de  ou relação com a comunidade judaica, nos entusiasmamos a pedir de porta em porta para serem entregues no Consulado a fim de seguirem para os kibutzim)

 

kibutz Ein-Gedi

kibutz Lavi

kibutz Gaash

kibutz Eilat

kibutz Golan_Dan

Texto de Henrique Ramalho