Massada

(a Última Fortaleza)

  

Massada ou Masada, traduzindo, montanha firme, situada no deserto da Judéia é uma agreste colina de cume arredondado, fortaleza natural nos terrenos marrons-dourados desérticos  junto ao Yam Melach, 'Mar Morto', também dominando a praia deste mar a 500metros. O acesso se faz pela estrada de Bersheva, do sul.

Seu cume arredondado de dificílimo acesso foi aproveitado para sucessiva melhoria e construção de palácios e defesas militares. Conjunto de edifícios no estilo império romano foi construído pelo rei Herodes, o Grande, que governou a Judéia de 37AC a 4 DC.

É um símbolo nacional, quer por simbolizar a destruição do reino de Israel em 73DC ao ser vencido pelos romanos, quer pela resistência dos hebreus àquelas hostes, até ao último homem.

Massada é um paradigma da vontade do povo judeu de morrer por sua liberdade e pela sua independência.

Por isso é ali realizado o juramento de bandeira e de fidelidade pelos recrutas da FDI (Forças de Defesa de Israel) ao som do uníssono grito “Nunca mais Massada cairá”

 

HISTÓRIA:

Flavius Josephus, escriba e historiador judeu contratado pelos romanos para eternizar os seus eventos, na sua obra “A guerra dos Judeus” (livro Vll) relata como o zelote Eleazar Ben Yair liderando um total de 1000 pessoas ( inclusos 960 guerreiros), coadjuvado pelo zelote Judas (fugido de Jerusalém ocupada) resistiu ao cerco e avanços do general Silva comandante da 10ª legião romana (10ª coorte), talvez o mais bélico exército do mundo da época, de cerca de 15.000 homens bem armados (de armas e armaduras do mais moderno e eficaz na época), bem treinados e já veteranos de outros combates decisivos quer na Europa quer em África.Nas suas linhas de reabastecimento e serviços braçais,muitos prisioneiros hebreus acompanhavam esta coorte.

Nos antecedentes consta que Flavius Josephus, foi de nome de nascimento Yossef, da família de sacerdotes Matatiahu, presenciou a grande revolta judaica em 66 DC, foi  governador da Galiléia, conseguiu sobreviver quando do suicídio dos resistentes de Yodfat ,mas se rendeu ao futuro imperador romano Vespasiano, naturalizando-se romano na seqüência.

Ele descreve que Masada fora fortificada por Jonathan, o Grande Sacerdote, mais tarde ampliada e robustecida por melhores defesas por Herodes, além de serem adicionados palácios e serventias.

Em 73DC,o general Silva do 10º exercito,vencida a rebelião judaica, só tinha como espinho Massada na ocupação territorial.

Mas Massada era um caso militar complexo: além da geografia agreste do terreno, havia o quartel general do tempo de Herodes, um refúgio deste no caso de se dar um conflito com Cleópatra, rainha do Egipto (foi a amizade de Herodes com Marco António que o salvou da concretização dessa ameaça). Assim Herodes construíra um palácio magnífico, com abundantes celeiros e ainda captação de água (recolha, condução para reservatórios subterrâneos de 700 litros e até distribuição).No âmbito militar, organizara paióis para 10.000 militares,  que além de armas tinham o suficiente em depósito de chumbo, bronze e ferro para os armeiros.

Tudo isso foi tomado intacto pelos zelotes em 66DC.

O general Silva montou seus 8 acampamentos no lado ocidental, cortando o acesso de reforços ou fuga aos cercados de Massada com uma muralha periférica de 3 metros de altura, reforçada por fortes e torres, num perímetro de 3kms.

Para atingir o topo, só duas vias:a do nascente o Caminho da Cobra, por 6 kms, carreiro de pé-posto; a do poente era inviabilizada por um forte a cerca de 500m do topo...

Mas, a 200m abaixo de Massada, a oeste, um promontório (Penhasco Branco) serviu para iniciar o aterramento do vale separador, pelo qual avançou uma torre com escorpiões e balistas (armas da época) ao mesmo tempo que o aríete destruía a parte inferior da muralha.Vencida esta, se deparou aos romanos 2ª linha de muralhas, mas esta era de técnica da época de Julio César, de madeira coberta de terra,que embora absorvendo o bater do aríete (tornando-o ineficaz), se tornavam frágeis e inflamáveis,para uma mão de obra abundante de escravos judeus trazidos pelo  general Silva.

Foi a noite de decisão final, após 3 anos de cerco e combates,perante o previsível ataque romano ao amanhecer, para os hebraicos: antes a morte que a escravidão e a humilhação pública de vencidos.

Assim degolaram as suas mulheres e filhos; depois se deixaram degolar por 10 zelotes chefiados por Eleazar Ben Yair. Estes tudo incendiaram, sortearam quem os mataria.O homem final, após incendiar o palácio, se deixou cair sobre sua espada.

Quando os romanos realizaram o assalto, unicamente encontraram 2 mulheres e 5 crianças que se tinham escondido nas condutas subterrâneas de água e teriam sido esquecidas no morticínio.

Os próprios romanos enalteceram a nobreza religiosa e nacionalista daqueles combatentes, no que foi o marco final da 1ª revolta Judia.

PS:no século V foi construida em Massada uma igreja bizantina, perdurou ainda no século Vl,mas tudo foi abandonado até ao passado século XX,século marcado pelas grandes escavações e reconstituições arqueológicas do lugar.

 

Henrique Lacerda Ramalho

Coronel de Infantaria/Exército Português