Elizer Wiesel

o mensageiro para a humanidade

"Cada momento é um momento de graça, cada hora uma oferenda: não partilhá-las seria o mesmo que traí-las. Nossas vidas não pertencem mais a nós somente; pertencem a todos aqueles que precisam desesperadamente de nós."

 

"Wiesel está com  81 ( em 2009).

 Está modestamente vestido com um "blazer" azul, calças cinzentas e sapatos pretos. O seu modo é uma gentil combinação de elegância e humildade, não é frágil, mas suspeito que não serei o primeiro a sentir o instinto de o proteger, de lhe falar tranquilamente, de não haver movimentos bruscos, vivenciar a sofisticação e a humanidade que ele merece."

(em: https://www.chicagotribune.com)

 

Elie Wiesel, nome por que é mais conhecido, judeu ortodoxo, nasceu em 30 de Setembro de 1928 em Sighetu Marmaţiei, (em húngaro: Máramarossziget); é uma cidade ao norte da Transilvâniada na Roménia com 41.246 habitantes, localizada no judeţ (distrito) de Maramureş, uma área que fez parte da Hungria de 1941 a 1945.

Os pais, Shlomo Wiesel, dono de armazém, e de Sarah (Feig) Wiesel, tiveram 4 filhos, três moças e ele, Eli.

Sarah (Feig) Wiesel

Robbie Waisman, Elie Wiesel e Joe Szwarcberg

 

Em 1944, Adolf Eichmann cumpriu a ordem de extermínio dos 600.000 judeus hungaros em mês e meio. A família Wiesel foi deportada para Auschwitz-Birkenau,Elie tinha 15 anos. Mãe e a irmã mais velha foram de imediato gaseadas, Elie e seu pai seguiram para Buchenwald. Este veio a falecer neste campo.

 

Barracão  #56 no Campo Pequeno, Abril 16, 1945 - Elie Wiesel é  visivel  no destacado da foto

Na libertação,11 de abril de 1945, o 1ª, à esquerda na fila

Libertado em 11 de Abril de 1945, com 16 anos, só soube mais tarde que suas duas outras irmãs, Hilda e Ber, tambem tinham sobrevivido. Tratado clinicamente, como orfão e apátrida, foi enviado para Normandia em França e depois, já como tradutor e tutor, foi para Paris.Aí, foi o seu início em escrever para várias publicações francesas e judaicas, fugindo ao tema de sua experiência no campo de concentração por julgar ter incapacidade de conseguir descrever e transmitir esse inferno.
Mas seu encontro e entrevista a François Mauriacprémio nobelista, nos anos 50, este insistiu para que o fizesse no nome dos 6 milhões de judeus assassinados. Elie o fez em 1955, em iídiche com o nome Un die Welt Hot Geshvign (E o Mundo Ficou em Silêncio), publicando o livro Night (Noite) em francês em 1958 e em inglês em 1960, que descreve a luta psiquica do jovem sobrevivente e seu "D´us" que teria aceite o holocausto de seu povo eleito.São os acontecimentos descritos que falam, a sua fala é sucinta:
"Eu me lembro: aconteceu ontem ou eternidades atrás. Um garoto judeu descobriu o reino da noite... Lembro-me de sua angústia...O gueto. A deportação. O vagão de gado selado. O altar de fogo sobre o qual a história de nosso povo e o futuro da humanidade seriam sacrificados."
 "sem dúvida a mais poderosa relíquia literária sobre o Holocausto" (Daniel Stern, do Nation's) .
Depois desta obra, a sua inclinação literária se torna uma avalanche, no campo literário,incluindo poemas e teologia.
Algumas publicações:

  • UN DI VELT HOT GESHVIGN, 1956
  • LA NUIT, 1958 - Night (tr. by Marion Wiesel) - Yö (suom. Heikki Kaskimies)
  • L'AUBE, 1960 - Dawn (tr. by by Frances Frenaye) - Sarastus (suom. Heikki Kaskimies)
  • LE JOUR, 1961 - The Accident / Day (tr. by Anne Borchardt)
  • LA VIELLE DE LA CHANCE, 1962 - The Town Beyond the Wall (tr. by Stephen Becker)
  • LES PORTES DE LA FORÊT, 1964 - The Gates of the Forest (tr. by Frances Frenaye)
  • LES CHANTS DES MORTS, 1966
  • LES JUIFS DU SILENCE, 1966 - The Jews of Silence (tr. by Neal Kozodoy) - Hiljaisuuden juutalaiset (suom. Juhani Kaakinen)
  • ZALMEN; OU, LA FOLIE DE DIEU, 1968 - Zalmen; or, The Madness of God (tr. by Nathan Edelman)
  • LE MENDIANT DE JÉRUSALEM, 1968 - A Beggar in Jerusalem (tr. by Lily Edelman and the author)
  • ENTRE DEUX SOLEILS, 1970 - One Generation After (tr. by Lily Edelman and the author)
  • CÉLÉBRATION HASSIDIQUE, 1972 - Souls on Fire (tr. by Marion Wiesel)
  • LE SERMENT DE KOLVILLÀG, 1973 - The Oath (tr. Marion Wiesel)
  • ANI MAAMIN, 1973 (music by Darius Milhaud)
  • CÉLÉBRATION BIBLIQUE, 1975 - Messengers of God (tr. Marion Wiesel)
  • UN JUIF AUJOURD'HUI, 1977 - A Jew Today (tr. by Marion Wiesel)
  • DIMENSIONS OF THE HOLOCAUST, 1977
  • FOUR HASIDIC MASTERS AND THEIR STRUGGLE AGAINST MELANCHOLY, 1978
  • LE PROCÈS DE SHAMGOROD, 1979 - The Trial of God (tr. by Marion Wiesel)
  • IMAGES FROM THE BIBLE, 1980
  • LE TESTAMENT D'UN POÉTE JUIF ASSASSINÉ, 1980 - The Testament (tr. by Marion Wiesel)
  • PAROLES D'ÉTRANGER, 1980
  • INSIDE A LIBRARY; AND, THE STRANGER IN THE BIBLE, 1980
  • CONTRE LA MÉLANCOLIE, 1981 - Somewhere a Master (tr. by Marion Wiesel)
  • THE HAGGADAH, 1982 (cantata)
  • PAROLES D'ÉTRANGER, 1982
  • FIVE BIBLICAL PORTRAITS, 1982
  • LE CINQUIÉME FILS, 1983 - The Fifth Son (tr. by Marion Wiesel) - Viides poika (suom. Heikki Kaskimies)
  • THE GOLEM: THE STORY OF A LEGEND AS TOLD BY ELIE WIESEL, 1983
  • AGAINST SILENCE, 1985 (ed. by Irving Abrahamson, 3 vols.)
  • SIGNES D'EXODE, 1985
  • AGAINST SILENCE: THE VOICE AND VISION OF ELIE WIESEL, 1985 (ed. by Irving Abrahamson)
  • JOB, OU, DIEU DANS LA TEMPÊTE, 1986
  • THE NOBEL ADDRESS, 1986
  • A SONG FOR HOPE, 1987 (music by David Diamond)
  • LE CRÉPUSCULE, AU LOIN, 1987 - Twilight (tr. by Marion Wiesel) - Palavat ikkunat (suom. Heikki Kaskimies)
  • L'OUBLIÉ, 1989 - The Forgotten (tr. by Stephen Becker) - Tuuleen tatuoitu (suom. Heikki Kaskimies)
  • LE MAL ET L'EXIL, 1988 - Evil and Exile (tr. by by Jon Rothschild)
  • THE SIX DAYS OF DESTRUCTION, 1988 (with Albert H. Friedlander)
  • SILENCES ET MÉMOIRE D'HOMMES, 1989
  • A JOURNEY OF FAITH, 1989 (with John Cardinal O'Connor)
  • FROM THE KINGDOM OF MEMORY, 1990
  • A JOURNEY OF FAITH, 1990 (with John O'Connor)
  • IN DIALOGUE AND DILEMMA WITH ELIE WIESEL, 1991
  • SAGES AND DREAMERS, 1991
  • CÉLÉBRATION TALMUDIQUE, 1991
  • NINE AND ONE-HALF MYSTICS, 1992
  • A PASSOVER HAGGADAH, 1993 (author of commentaries)
  • TOUS LES FLEUVES VONT A LA MER, 1994 - All Rivers Run to the Sea: Memoirs (tr. 1995)
  • MEMOIRE A DEUX VOIX, 1996 - Memoir in Two Voices (conversations between the French leader Francois Mitterand and E.W.; trans. by Richard Seaver and Timothy Bent)
  • EST LA MER N'EST PAS REMPLIE, 1996 - And the Sea is Never Full (tr. by Marion Wiesel)
  • CHILDREN OF JOB, 1997 (with Alan L. Berger)
  • LA HAGGADAH DE PÂGUE, 1997 (with Mark Podwal)
  • ETHICS AND MEMORY, 1997
  • CÉLÉBRATION PROPHÉTIQUE, 1998
  • CELEBRATING ELIE WIESEL: STORIES, ESSAYS, REFLECTIONS, 1998 (ed. by E.W. et al)
  • LE GOLEM, 1998
  • LES JUGES, 1999 - The Judges (tr. 2002)
  • LE ROI SALOMON ET SA BAGUE MAGIQUE, 2000
  • D'OÙ VIENS-TU?, 2001
  • AFTER THE DARKNESS: REFLECTIONS ON THE HOLOCAUST, 2002
  • LE TEMPS DES DÉRACINÉS, 2003 - The Time of the Uprooted: A Novel (tr. by David Hapgood)
  • ET OÚ VA-TU?, 2004
  • UN DÉSIR FOU DE DANSER, 2006 - A Mad Desire to Dance, 2009 (tr. by Catherine Temerson)
  • LE CAS SONDERBERG, 2008

 

Em 1963, se torna cidadão americano;em 1969 casou-se com uma dos sobreviventes austriacos, a escritora e editora  Marion Erster Rose, que o auxilia em traduções dos seus trabalhos, e tendo um filho,Shlomo Elisha, nascido em 1972.  Atualmente, os Wiesel moram em Nova Iorque.

 Foi Professor Ilustre de Estudos Judaicos na Universidade da Cidade de Nova York de 72 a 76. É desde 76 Professor da Universidade e Professor de Humanismo na Universidade de Boston.

 Wiesel recebeu mais de 100 distinções por suas atividades literárias e ligadas aos direitos humanos.

 Estes incluem a Medalha Presidencial da Liberdade, a Medalha de Ouro do Congresso dos Estados Unidos e a Medalha da Liberdade, além do título de Grande Oficial na Legião Francesa de Honra. O Presidente Jimmy Carter designou Wiesel como Diretor do Conselho do Memorial do Holocausto em 1978. Em 1986, Wiesel recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Pouco depois, Wiesel e sua mulher Marion  criaram a Fundação Elie Wiesel para a Humanidade organização essa dedicada a combater a indiferença,a intolerancia, e a injustiça através de diálogo internacional e programas focados na juventudea fim de promover a aceitação,compreensão e igualdade

www.eliewieselfoundation.org     

ELI WIESEL FOUNDATION AWARDS 2008


Wiesel tem defendido a causa dos judeus soviéticos, os índios Miskito da Nicarágua, os "desaparecidos" da Argentina, os refugiados do Cambodja, os Curdos, as vítimas do apartheid na África do Sul, as vítimas da fome na África e mais recentemente as vítimas e prisioneiros na antiga Iugoslávia. Ao apresentar o Prêmio Nobel da Paz, Egil Aarvik, diretor do Comitê Nobel, declarou sobre Wiesel: "Sua missão não é conquistar a simpatia do mundo para vítimas ou sobreviventes. Sua meta é despertar a nossa consciência. Nossa indiferença em relação ao mal nos torna parceiros no crime. Esta é a razão para seu ataque à indiferença e sua insistência em medidas que visam a prevenir um novo Holocausto. Sabemos que o inimaginável aconteceu. O que estamos fazendo agora para impedir que aconteça novamente?"

O Comité norueguês do Nobel chamou-o de "mensageiro para a humanidade."


 

Discurso de Aceitação do Prêmio Nobel da Paz por Elie Wiesel:
É com um profundo senso de humildade que aceito a honra que escolheram conceder a mim. Eu sei: sua escolha transcende a minha pessoa. Isto tanto me assusta como agrada. Assusta-me porque eu me pergunto: Tenho o direito de representar as multidões que pereceram? Tenho o direito de aceitar esta grande homenagem em nome deles? Não tenho. Isso seria presunçoso. Ninguém pode falar pelos mortos, ninguém pode interpretar seus sonhos e visões mutiladas.
Agrada-me porque posso dizer que esta honra pertence a todos os sobreviventes e seus filhos, e através deles, ao povo judeu, com cujo destino eu sempre me identifiquei.
Eu me lembro: aconteceu ontem ou eternidades atrás. Um garoto judeu descobriu o reino da noite. Lembro-me do seu assombro. Lembro-me de sua angústia. Tudo aconteceu tão depressa. O gueto. A deportação. O vagão de gado selado. O altar de fogo sobre o qual a história de nosso povo e o futuro da humanidade seriam sacrificados.
Eu me lembro: ele perguntou ao pai: "Isso pode ser verdade? Este é o Século Vinte, não a Idade Média. Quem permitiria que tais crimes fossem cometidos? Como o mundo pode permanecer em silêncio?"
E agora o garoto se volta para mim: "Diga-me," diz ele, "o que você fez com o meu futuro? O que fez com a sua vida?"
E digo a ele que eu tentei. Tentei manter a lembrança viva, que tentei lutar contra aqueles que se esqueceriam. Porque se nos esquecermos, seremos culpados, seremos cúmplices. Então expliquei a ele como éramos ingênuos, que o mundo não sabia e permaneceu em silêncio. E que é por isso que jurei nunca ficar em silêncio quando e onde quer que seres humanos passem por sofrimento e humilhação. Devemos sempre apoiar os lados. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o atormentador, nunca o atormentado.
Às vezes devemos interferir. Quando vidas humanas estão ameaçadas, quando a dignidade humana corre risco, as fronteiras nacionais e as sensibilidades se tornam irrelevantes. Toda vez que homens ou mulheres são perseguidos por causa de sua raça, religião ou opiniões políticas, aquilo deve – naquele momento – tornar-se o centro do universo.
Sim, eu tenho fé. Fé em D'us e até em Sua criação. Sem fé nenhuma ação teria sido possível. E ação é o único remédio para a indiferença: o perigo mais insidioso de todos. Não é isso o que significa o legado de Alfred Nobel? Seu medo da guerra não foi um escudo contra a guerra?
Há muito a ser feito, há muito que pode ser feito. Uma pessoa… de integridade pode fazer uma diferença, uma diferença entre vida e morte. Enquanto houver um dissidente na prisão, nossa liberdade não será verdadeira. Enquanto uma criança estiver faminta, nossas vidas estarão repletas de angústia e vergonha.
"Decidi dedicar minha vida a contar a história porque senti que tendo sobrevivido, devo algo aos mortos, e todo aquele que não se lembra os trai mais uma vez."
O que todas estas vítimas precisam acima de tudo é saber que não estão sozinhas: que não estamos nos esquecendo delas, que quando suas vozes forem silenciadas lhes emprestaremos a nossa, que embora sua liberdade dependa da nossa, a qualidade de nossa liberdade depende da deles.
É isso que digo ao garoto judeu que se pergunta o que eu fiz com os seus anos. É em nome dele que lhes falo e expresso a vocês a minha profunda gratidão. Ninguém é capaz de sentir gratidão como aquele que emergiu do reino da noite.
Sabemos que cada momento é um momento de graça, cada hora uma oferenda: não partilhá-las seria o mesmo que traí-las. Nossas vidas não pertencem mais a nós somente; pertencem a todos aqueles que precisam desesperadamente de nós.
Agradeço ao Diretor Aarvik. Obrigado aos membros do Comitê Nobel. Obrigado a vocês, povo da Noruega, por declararem nesta ocasião única que nossa sobrevivência tem um significado para a humanidade.

Citações de Elie Wiesel

"A educação é a chave para impedir que o ciclo de violência e ódio que manchou o Século XX se repita no Século XXI."
"Digo que o medo deve ser seguido pela esperança. Espero – que você faça algo a respeito. É um chamado à ação."
"Vamos morrer. Eles sabiam disso, e suas últimas palavras a suas famílias foram: ‘Eu amo vocês.’ Mesmo no sofrimento, suas últimas palavras foram de amor… Pessoas que poderiam ter se salvado e em vez disso correram de volta para salvar outros. Se a humanidade é capaz disso, como posso perder a esperança na humanidade?"
"Não tenho dúvida de que a fé somente é pura quando não nega a fé de outrem. Não tenho dúvida de que o mal pode ser combatido e que a indiferença não é opção. Não tenho dúvida de que o fanatismo é perigoso. E de todos livros do mundo sobre a vida, não tenho dúvida de que a vida de uma pessoa vale mais que eles todos."
"Já fui a toda parte, tentando evitar muitas atrocidades: Bósnia, Kosovo, Macedônia. O mínimo que posso fazer é mostrar às vítimas que elas não estão sozinhas. Quando fui ao Cambodja, jornalistas me perguntaram: ‘O que você está fazendo aqui? Esta não é uma tragédia judaica.’ Respondi a eles: ‘Quando eu precisei que as pessoas fossem, não o fizeram. É por isso que estou aqui."
“Uma destruição, uma aniquilação que somente o homem pode provocar, somente o homem pode impedir."
"Não perdi a fé em D'us. Tenho momento de raiva e de protesto. Às vezes fiquei mais perto d'Ele por causa disso.""Porque eu me lembro, eu me desespero. Porque eu me lembro, tenho o dever de rejeitar o desespero."
“Por causa da indiferença, a pessoa morre antes de realmente viver."
"A esperança é como a paz. Não é um presente de D'us. É um presente que somente nós podemos dar um ao outro."
"Decidi dedicar minha vida a contar a história porque senti que tendo sobrevivido, devo algo aos mortos, e todo aquele que não se lembra os trai mais uma vez."
"Não perdi a fé em D'us. Tenho momentos de raiva e de protesto. Às vezes fiquei mais perto d'Ele por causa disso."
"Jurei nunca ficar em silêncio sempre e onde quer que seres humanos estejam passando por sofrimento e humilhação. Devemos sempre tomar lados. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima."

Texto adaptado de:

 https://www.chabad.org.br/BIBLIOTECA/ARTIGOS/elie_wiesel/home.html

Arte de Rivkah Cohen